• Informe MNCR no Fórum Mundial de Economia Solidária – Santa Maria 2013

    Posted on julio 29, 2013 by in Clasificadores, Economía Solidaria, Eventos

    Uma delegação do MNCR de diversas regiões do país participou do II Fórum Social Mundial de Economia Solidária em Santa Maria – RS, que teve a participação de cerca de 200 mil pessoas segundo seus organizadores. O evento foi uma oportunidade dos participantes do Programa Cataforte compartilhar e incorporar conhecimentos e experiências da economia solidária desenvolvida por outros movimentos sociais.

    Os catadores realizaram também um seminário estratégico sobre a cadeia produtiva de resíduos sólidos, além de reuniões de articulação e uma manifestação pelas ruas da cidade juntamente com outros movimentos sociais do campo e da cidade.

    No dia 11 de julho, Dia Nacional de Lutas da classe trabalhadora, o MNCR em várias cidades do Brasil, como nas cidades de Gravataí e Cachoeirinha, além da Marcha Mundial de Economia Solidária em Santa Maria reivindicaram mais investimentos para os empreendimentos solidários. Com palavras de ordem em defesa da Natureza, pela coleta seletiva solidária e contra a incineração, catadores tomaram as ruas juntamente com muitas organizações em economia solidária.

    Nos dias 12 a 15, realizaram o seminário onde já na mesa de abertura aprofundaram uma analise de conjuntura, começando por afirmar que as associações e cooperativas são empreendimentos de economia solidária onde se pratica a solidariedade de classe, a autogestão e principalmente a democracia direta, garantindo a independência de classe.

    Outro ponto importante de debate e afirmação foi que os catadores têm que conhecer e saber como funciona a sociedade capitalista, avançando no protagonismo, vencendo o chamado “dono da associação”, garantindo o sentimento de pertencimento à seus associados, ampliando a autogestão e garantindo a inclusão dos catadores não só no trabalho, mas sim em toda a vida associativa de seus empreendimentos e principalmente de seu próprio movimento. Foi lembrado que a trajetória de 12 anos do MNCR muitas conquistas foram alcançadas, mas ainda há muito a conquistar e muito depende da relação com o poder público.

    Carlos Alencastro Cavalcanti, representante do MNCR, resume este momento afirmando que a “solidariedade é um chamado á união. Solidários somos gente, solitários somos peças, de mãos dadas somos força, desunidos – impotência, isolados somos ilhas, juntos somos continente, inconscientes somos massa, reflexivos somos público, organizados somos pessoas, sem organização, somos objetos de lucro, em equipe ganhamos, nos libertamos, dispersos – nos perdemos, continuamos presos, participando somos povo, marginalizando–nos somos rebanho”, declarou ressaltando que para mudar o sentido do sistema são necessários muitos catadores militantes formados e capacitados para avançar junto e no coletivo.

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    Durante reunião interna de militantes do MNCR, um momento importante e reflexivo, onde tivemos a participação apenas dos catadores, foram deliberados os seguintes encaminhamentos:

    a) Os estados e os comitês devem ter seus planejamentos e suas formações.

    b) Os catadores sempre devem estar em estado de mobilização constante.

    c) As políticas públicas na forma de política de Estado que contemplem os catadores devem ser continuas e garantidas por lei.

    d) Garantia que os catadores participem das conferencias regionais de Meio Ambiente e no âmbito nacional junto com o ministério do meio ambiente.

    e) Cada estado ter equipe de captação de recursos coordenada pelos catadores. Além de equipes Regionais e da Nacional.

    f) Garantia de contratação de prestação de serviço da Coleta Seletiva Solidária para o fortalecimento das redes. Inclusive cumprindo o decreto 5.940.

    g) Fortalecer e ampliar as equipes de articulação estaduais, regionais e municipais.

    h) Comunicação e articulação permanente entre as redes solidárias de catadores .

    i) Buscar a ampliação e participação dos militantes junto com a articulação nacional.

    j) Garantir reuniões periódicas estaduais junto com a articulação nacional.

    Enquanto que os grupos Técnicos e de Entidades de Apoio aos catadores apontaram

    1. Importância da formação política, identidade coletiva e de classe junto com a formação técnica.

    2. Fazer a formação levando em conta o grau de instrução das pessoas.

    3. Visão das Prefeituras que coleta deve ser mecanizada e feita por empresários.

    4. Entender o catador que quer continuar catando, que não se adapta e o impacto na separação promovida pela coleta seletiva.

    5. Cataforte III visa garantir a sustentabilidades dos empreendimentos. 250 milhões nos próximos 3 anos. MMA, MDS e Funasa atuarão como parceiros no Cataforte III.

    6. Já temos motivos para comemorar. A articulação dos investidores, a capacidade técnica dos parceiros e o crescimento da articulação dos catadores além do surgimento de novas lideranças são sementes plantadas nestes três anos que já demonstram o crescimento.

    7. As cidades estão sendo privatizadas.

    8. Como pensar a questão dos catadores dentro da perspectiva territorial. Des-privatização dos espaços públicos.

    9. Como construir políticas públicas sem hegemonizar.

    10. Florescimento de novas lideranças.

    11. Convergência e ações integradas evitando sobreposição de ações.

    12. Opressão dos catadores pelos próprios catadores.

    13. Metodologia de empoderamento, pertencimento e compromisso com a utilização adequada dos recursos públicos. Nos moldes da ação de implementação das 60.000 cisternas, dentro do projeto Brasil sem miséria.

    14. Importância de pensar a cadeia de forma integrada com outras cadeias onde a economia solidária e agricultura familiar estão presentes.

    15. Pensar com foco territorial, considerando os produtos como um consumidor dos produtos e serviços.

    Um dos últimos pontos a serem discutidos no encontro foi sobre a legislação, onde tivemos a coordenação dos trabalhos feitos pelo SENAES, com a participação da Advogada e apoiadora do MNCR-RS Paula Correa Garcez e os secretários nacionais da SENAES Prof. Paul Singer e Roberto Marinho.

    Os debates foram muitos calorosos e tivemos que estender em mais duas horas o termino deste painel, onde tivemos alguns apontamentos e afirmações;

    • Necessidade de conhecer e discutir mais profundamente a legislação.

    • Exigência de trabalhadores de falsas cooperativas que entravam com ações trabalhistas contra as cooperativas, o que levou à necessidade de criar uma nova legislação para o cooperativismo.

    • O estabelecimento de salário mínimo pode provocar situações de falta de compromisso com o trabalho da cooperativa.

    • Discussão sobre Tributação ainda não esgotada.

    • Foram expostas situações de dificuldade da administração dos contratados já assinados, em prejuízo aos catadores.

    • As Cooperativas de Trabalho Associados não se aplica o artigo 7º, não há partilha, cada um ganha o que produziu, como pequenos agricultores.

    • A obrigação é para as cooperativas de trabalho conjunto, coletivo.

    • Os cooperados devem ter seus direitos assegurados.

    • Desafio da SENAES, organizar todos os catadores com o apoio dos próprios catadores que já estão organizados.

    • Organizar os catadores com remuneração garantida como imposição das circunstâncias para a melhoria do planeta.

    • Atraso na regulamentação em função de dificuldade de negociação com o INSS.

    • Cooperativas de Trabalho de Produção/ Trabalho Coletivo, prazo de carência para assegurar o cumprimento de incisos 1 e 7º, os demais devem ser cumpridos imediatamente. Cooperativa de prestação de serviço a terceiro (prefeituras) terá prazo de 12 meses para adequar os estatutos e cumprir incisos 1, 4, 6 e 7º. Incisos II e III já estão em vigência, 8 horas de trabalho e descanso remunerado, e repouso anual remunerado.

    • Dificuldade das cooperativas de conseguir seguro para acidentes de trabalho.

    • Regulamentação do art. 7º – I – As retiradas deveriam ser realizadas somente ao final do ano, pela atividade realizada, resultado do serviço, operação, atividade ou produto executado pelo cooperado.

    • O resultado depende do mercado, por isso a cooperativa de produção não tem como estabelecer valor mínimo obrigatório.

    • No caso de cooperativa de prestação de serviço a terceiro o salário mínimo deve ser garantido pelos contratos assinados com as prefeituras.

    • Os critérios devem ser estabelecidos por assembléia.

    • As cooperativas de catadores de materiais recicláveis já fazem inclusão de pessoas excluídas, quer por idade, deficiência física, incapacidade, isso não é reconhecido pelo poder público.

    • Poucos contratos com poder público, menos de 20 em todos Brasil.

    • A Lei deve ser discutida junto com os catadores. Contratos que paguem custeio, inclusão e tributos.

    • Garantias devem ser dadas pelos municípios.

    • Necessidade de viabilizar reunião conjunta com o setor de tributos do governo federal para tratar de questões tributárias voltadas aos catadores.

    • Adequar todos à lei, colocar todos na linha pode levar ao risco de servir ao capital. Não servir ao capital.

    • Reconhecimento do que já foi feito pelo governo federal com intuito de dar autonomia aos catadores. Prefeituras sempre colocam empecilhos para a contratação, poder público que explora os catadores, apesar do TAC as condições de trabalham não são disponibilizadas aos catadores.

    • Debate sobre a terceirização, legislação que vai prejudicar os catadores.

    • Na sanção da lei não foi possível fazer mudanças, qualquer mudança deveria ter sido feita antes da sanção.

    • Alternativas – não tirar o artigo 4º que poderia regulamentar o que está sendo regulamentada. Para ganhar a autonomia todos devem ser cooperativas de produção, só assim poderão conquistar autonomia.

    • Criar Cooperativas de produção para não se subordinar à prefeituras e empresas.

    • Setores do cooperativismo estão lutando pelo reconhecimento do Ato Cooperativo.

    • Imposição legislativa já viola a liberdade que se espera de uma cooperativa. Cooperativas periclitantes ou resistentes.

    • Seguir a legislação é escravizante. Catadores devem conhecer ela, mas não deve ser de cima para baixo.

    • No intuito de fazer as coisas melhor a lei de licitação acaba excluindo. A lei engessava, a nova sufoca.

    • As cooperativas contratadas por prefeituras devem atender à legislação.

    • Não há leis imutáveis, os catadores devem buscar a mudança.

    O Painel foi encerrado com uma fala reflexiva do Professor Paul Singer que diz

    A defesa do planeta está nas mãos dos pequenos agricultores e das cooperativas de materiais recicláveis.

    O fechamento do encontro foi realizado na feira de economia solidária onde todos nos colocamos em pé e em circulo para juntos fazermos as avaliações finais.

    Onde estávamos á 20 anos atrás, qual era a nossa situação? Olhem onde estamos hoje. Vendo cada companheiro e cada companheira aqui presente, afirmo: O nosso futuro será bem Melhor

    conclui o catador Alex Cardoso que coordenou o fechamento das atividades.

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